Victor & Leo sempre tiveram uma necessidade muito grande de explicar a própria música. Sofrem, desde que estouraram para o Brasil, com a rotulação desenfreada do trabalho que executam. Por diversas vezes soltaram notas e emitiram declarações à imprensa sempre repudiando qualquer tipo de termo que atribuíssem ao que eles cantam e tocam. Já foram chamados de universitários porque estouraram praticamente para o mesmo público e surgiram para o Brasil na mesma época que as duplas que efetivamente faziam parte desse extinto sub-segmento do gênero sertanejo. Em outras ocasiões, já foram chamados até de não-sertanejos, apenas porque procuram fazer um trabalho que se diferencia muito do que habitualmente se vê nesse estilo musical. Como se o gênero sertanejo fosse uma questão matemática, onde “x + y = música sertaneja” e a dupla Victor & Leo não fosse nem x nem y, mas um terceiro elemento que nunca tinha sido incluído nessa equação. Mas entre as atitudes eventualmente tomadas pela dupla com o intuito de explicar o tipo de música que eles criaram e executam, este documentário é, sem dúvida, a mais inteligente de todas.
Para começar, o filme não tem narração, o que possivelmente elevaria o tom melodramático. É tudo pautado apenas pelos depoimentos de várias pessoas, unidos a uma trilha sonora impecável, composta não apenas de canções da dupla Victor & Leo. Observa-se nitidamente no filme uma divisão em 3 partes: história da música sertaneja até o surgimento da dupla para o grande público, características da dupla e histórias da carreira, e o processo de criação e gravação do disco “Boa sorte pra você”.
A partir dos depoimentos do maior jornalista “caipira” do Brasil (José Hamilton Ribeiro) e de artistas como Sérgio Reis, Renato Teixeira, Milionário & José Rico, Chitãozinho & Xororó, Leonardo e Bruno & Marrone, são apontadas algumas épocas cruciais para o desenvolvimento do segmento, colocando justamente alguns destes artistas enumerados como protagonistas destas referidas épocas. Tudo contado na ordem cronológica dos fatos. Tudo bem que pouco ou nenhum destaque foi dado a duplas como Tonico & Tinoco nas fases iniciais e Zezé di Camargo & Luciano numa época mais recente, mas o fato é que toda a cronologia do gênero foi respeitada.
Logo depois, também com base em depoimentos, desta vez de artistas e profissionais mais familiarizados com o trabalho da dupla Victor & Leo e de amigos, a dupla é resenhada. Excelente o destaque dado ao Victor instrumentista. Algumas cenas dele gravando o violão das suas músicas são sensacionais. O cara toca demais. Fato. Logo depois, na terceira parte do documentário, considerações sobre o processo de gravação do disco mais recente.
Fica claro desde o início que o objetivo do documentário é explicar de forma definitiva o tipo de trabalho que a dupla desenvolve e mostrar que eles têm sim uma origem definida e uma raiz consolidada. Mas devem parar por aí. Como eu bem salientei, essa foi a atitude mais inteligente já tomada por eles com o intuito de, mais uma vez, tentar explicar o som deles. Não precisa agora ficar com a mesma ladainha de sempre de “não gostamos que nos rotulem”, “nós fazemos um som assim e assado”. Esse documentário é totalmente didático e cumpre com excelência essa função de explicar tudo isso. Qualquer declaração sobre esse assunto que possa ser dada de agora em diante vai soar como repetição desnecessária.
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